Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2007-12-28

HOMENAGEM

BENAZIR BHUTTO

Não há nada mais fácil do que tirar a vida de um homem ou uma mulher. Nós humanos somos criaturas frágeis e podemos facilmente ser mortos. Mas não podem matar uma idéia cujo tempo chegou! A ideia do socialismo.

2007-12-26

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA VI - COMO EU GOSTAVA

30.11

Hoje o meu destino foi Forte Aguada. Começada a sua construção em 1604 esta foi finalizada, a sua parte principal, em 1812, data que esta (ou estava?) marcada numa placa:
"REINANDO MUI CATHOLICO REI D. FILLIPE 2.º DE PORTUGAL MANDOU A CIDADE FAZER ESTA FORTALEZA DO DINHEIRO DE UM POR CENTO, PARA GUARDA E DEFFENSÃO DAS NÁOS, QUE A ESTE PORTO VEM, A QUAL FOI ACABADA PELOS VEREADORES DO ANNO 1612, SENDO VICE-REI DÉSTE ESTADO RUI LOURENÇO DE TAVORA."
Lutei para chegar à memória de uma certa tarde em que me era difícil acordar e ver que o mundo corria alucinado à minha volta. Nesse momento ajudei-me a pensar e fiz uma pergunta a mim mesmo. Será que Portugal continua a esquecer-se que tem história ou será que não tem a história que me ensinaram?
Volto para a Índia e entro no mercado de Panjim, ou Panajai. Aqui começa uma correnteza sem paragem, uma viagem que não cessa e viajo com esta gente pelos corredores apertados como marinheiros nos braços de um rio que desagua no Mandovi. Flores, especiarias, peixe, vegetais, carne, fruta, cores, cheiros, simpatia, sorrisos. O mundo passara por aqui e foi-se embora. Como eu gostava que estivesses aqui.

2007-12-13

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - V

29.11

Em Calangute faço escala no Redonda onde
me refresco com uma King Fisher.
Gosto de olhar para longe e vibro com o subtil cio da luz.
Ofereço-te uma cerveja servida por um simpático nepalês
vindo do mar de além enquanto observo esta
desorganização organizada malhada de âmbar desejo
e que vou vendo em todas as cidades.

Os sons, as cores, os cheiros estão aqui depois da paz
encontrada nos templos hindus de
Tiswadi Taluka (Shri Manguesh, Mahalsa e Ramanathis).
Sentei-me no mármore interior do Templo de Shri Manguesh
a comtemplar Ganesh a divindade com cabeça de elefante,
o Deus da Sabedoria e da Prudência.
Reconheci as dez encarnações de Vixnu, um peixe,
uma tartaruga, um javali, o homem com cabeça de leão
chamado Narasinha, o anão Vamana,
o sacerdote guerreiro Parashurama e o seu machado,
o Príncipe Rama, Rei de Ayodhya, Krishna,
Buda e finalmente o homem cavalo Kalki.


É curiosa esta progressão de peixe a Buda
seguindo o modelo da evolução da vida,
da água à terra, dos seres mais simples
aos mais complexos.
À entrada comprei grinalda de flores que entreguei
a um sacerdote que como todos os Brâmanes
usava um cordão branco cruzado sobre o peito.
Encantador o banho das gentes e da Índia
neste fim de tarde em Calangute.



2007-12-12

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - IV


29/11
Ontem ofereceram-me flores e simpatia
quando desembarquei em Goa.
Há muito tempo que não sentia o
sorriso das gentes.
O colar cheio de perfumes e cores
criou-me uma sensação estranha.
A pele mais uma vez me diz
que faz parte do meu corpo.
O sal do meu suor, mar das minhas alegrias,
diz-me que estou a caminho
de um lugar que já foi meu.
Olho para o céu e gosto de saber
que este azul é um mar sem fim.
Meu amor como gostava que me mostrasses
as estrelas deste lado do mundo.
E não te encontro meu cruzeiro do sul!
Ao longe vislumbro um manso alvoroço de asas
e um bando de garças atravessa a paisagem.
As gralhas protestam num último fulgor do dia.
E eu adormeço em silêncio
e nada tenho para te dizer.
Sigo para Calangute.

2007-12-11

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - III



28/11
 
Finalmente o meu navio chega ao porto da boa baía
onde já o velho da Gama a havia baptizado de Bombaim.
Hoje Mumbai ou “Maiambu” que parece ser uma alusão
a Mumba-Devi, a deusa hindu de onde vem o nome
em marata, diz-me que há-de levar-me a descobrir o
mundo que não sabia que existia.
Uma pergunta invade-me o espírito.
O que faço eu aqui?
Alguém me disse que ía iniciar uma outra viagem,
uma viagem inteira. Lá longe um vento fresco
sussurra-me baixinho ao coração e diz-me
que há um mundo para descobrir.
Avanço devagar pela cidade, a pele cola-se-me ao corpo,
sinto o coração bater depressa,
e começo a minha descoberta.
Sei que hoje estou de passagem e descubro que as cores
foram a minha primeira conquista.
E lembro-me de um samba de Cartola:
 Queixo-me às rosas
Mas que bobagem, as rosas não falam
Simplesmente as rosas exalam
O perfume que roubam de ti
Devias vir
Para ver os meus olhos tristonhos
E quem sabe sonhavas meus sonhos
por fim

2007-12-10

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA II

27/11

Vejo-me na estrada a percorrer o caminho que me leva à capital
e não sinto nos cavalos que puxam a minha carruagem qualquer
queixume. Chego ao porto de embarque e vejo as gentes apinhadas
à procura da nau que as há-de levar à Índia. Fica-se a saber que
existe uma armada de barcos que nos levará para lá da Boa Esperança.
Não gosto da cara de muitos dos marinheiros que embarcam comigo
na primeira nau. Fico mais sossegado porque embarco
no navio dos poetas.
Já no Florbela Espanca a meio da manhã quando nos fazemos ao mar,
lembro-me do seu belo poema "os versos que te fiz” e da minha amada
que ficou lá longe.
Os versos que te fiz
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.
 
Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!
 
Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!
 
Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!
Florbela Espanca

Estou ainda a viver de recordações quando o navio,
por ventos e marés que desconheço aporta a terras de Sua Majestade,
inimigo do meu Reino. Soube que havia festa no Palácio da Rainha
e que ninguém nos tinha convidado. Resolvemos levantar ferros
e navegar de novo tentando, finalmente, chegar à Índia.
No porto do Tamisa o ambiente era de festa e havia marinheiros
de todo o mundo levados pela correnteza sem paragem.
Iniciei hoje o meu viajar de uma viagem anunciada.

 

2007-12-09

A MINHA DESCOBERTA DA ÌNDIA - I


Gosto de viver a ansiedade antes das viagens.
Sinto-me quando criança o meu pai me levava pelas
estradas de Angola à procura de coisas novas.
Mesmo nessa altura a viagem mais importante para mim
era a viagem interior que a descoberta me despertava.
A isto gosto de chamar o viajar de uma viagem.
Vasco da Gama deve-se rir das minhas fraquezas quando
tento ser navegador do tempo. Hoje mal consigo fechar
os olhos. A minha nau vai acima das nuvens e soube
que a do navegador das Índias foi acima das ondas.
Quem vai chegar primeiro?