Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-08-12

O CAPIM DA MINHA ESTRADA

O vento já não sopra aqui. Não sei se foi para longe, se levou as ideias ou se secou mesmo o pensamento. Calou a chuva que caía e que perfumava os caminhos da nossa aldeia. O perfume que vinha da terra e que ondulava à minha frente como as ondas do teu mar azul que baloiçava o barco do destino, também já não está aqui. Sabiamos que tudo estava para acontecer. Até o futuro. Sabiamos que não íamos mais chorar. O sal das nossas tempestades estava mesmo à frente de nós. Tudo se constrói com as nossas mãos entrelaçadas, ao fim da tarde, numa vontade de querer fazer e querer estar. Mesmo longe. Sinto o bater do teu coração. Cada vez mais forte. O chamamento para nova etapa dos sonhos é mais forte que a vontade de estar quieto. Mesmo a olhar o fim do horizonte. Amanhã subo à montanha e grito para ver se me ouves. Sei que estás comigo e que me vais dizer que gostas de mim. Assim eu te amasse para ficarmos juntos o resto das nossas vidas. E se calhar falta tão pouco para o final da viagem. Muito pouco. Mais de metade do caminho já está percorrido. Agora luto para te poder dar um beijo e sair para dormir sossegado no capim da estrada da minha aldeia. Leio, devagarinho, o poema que me diz que havemos de voltar.

2005-08-09

LUGARES

Há lugares que são ponto de partida de um percurso de vida. O nordeste transmontano é um desses lugares, de onde partiu o meu velho marinheiro e a minha estrela do mar e que num amor vivido de aprender a vida, a estrela deu ao luar a vida presente. É um universo de memórias, uma conquista em nome dos sonhos, da força que precisamos para sermos aquilo que ambicionamos. O vôo das aves perde-se entre os rochedos carregando consigo os segredos perdidos no horizonte e onde a água azul deslizante do rio canta melodias de canções redutoras.
Escuto o silêncio das montanhas, perco-me nos odores das fragas, iludindo a dor que trago na alma, querendo acabar com um tempo de forasteiro e navegando no espaço entre mim e eu. E olho para a espuma do mar olhada ao luar. Vibro, amo e vivo brincando com as estrelas da minha infância que choram as distâncias diferentes, num céu azul entre norte e sul onde a paixão renasce. Respiro o ar da maresia fresca que provoca a ondulação e a corrente das cearas salgadas com o suor das gentes que aprenderam a viver a vida, guardando os medos como segredos, fazendo juras que não se vêm, tentando ser os ramos dos cravos que curam as saudades das lembranças.
Continuo vivo e presente e trago dentro de mim o sabor e a recordação da magia do longe e deixo de ouvir o eco do canto suspenso que me segreda o amor pela terra em que nasci. Gosto de viver porque odeio a morte.

2005-08-05

MOMENTOS FELIZES


Momentos Felizes são aqueles que vivemos com alegria e muita emoção. Reflexo de tempos vividos e contados em livro. A minha pequena homenagem à Ana Clara Guerra Marques, criadora de um projecto inovador em Angola. Na dança. Na cultura.

2005-08-02

HAJA CORAÇÃO

As noites em Agosto são mais quentes e mais doces. Achego-me ao teu corpo sem promessas. Encosto o meu peito ao calor da tua ternura de mulher, coloco as minhas mãos nas tuas mãos, os meus lábios nos teus, sem te beijar. Mas o que me apetecia era trocar os mais vermelhos beijos, numa loucura de desejos, ouvir-te no teu sussurro, sem me dizeres que me amas. Sei para onde vou e quero-te até o meu querer me doer cá dentro. Vamos partir. Olho-te no silêncio do meu tempo e sou teu, verdadeiramente teu. No meio da noite. Amo o mundo dos meus fascínios, dos meus delírios e enfeitiço-me com a bruma dos teus amores.
Haja coração!