Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2007-10-18

JULIETA GANDRA


Vi no Público um artigo de Rui Araújo chamando a atenção para o facto de ninguém ter escrito uma linha que fosse sobre a morte da Dra. Julieta Gandra. Foi assim que eu soube que ela tinha morrido e senti a mesma injustiça, razão pela qual aqui deixo uma história que serve também de justa homenagem.
A Dra. Julieta Gandra era a médica ginecologista da Luanda dos anos 50 e a ela recorriam todas as mulheres brancas que viviam na cidade. Era conhecida não só por ser uma boa profissional mas também por ser uma mulher de grande humanidade, que dava consultas gratuitas nos musseques e conselhos a todas as mães aflitas, pudessem ou não pagar as consultas. Para ela não havia cor da pele, nem estratos sociais, mas apenas mulheres e crianças que precisavam da sua ciência e dos seus cuidados.
A Dra. Julieta Gandra era também uma activista política, opositora ao regime, e vivia sob vigilância, tal como outros que vieram mais tarde a participar na vida política nacional, como Tito de Morais. Mas o clima adensou-se, a guerra já se anunciava e em 1959 ela foi presa sob pretextos ridículos e fechada num hospital psiquiátrico, que lhe servia de prisão enquanto aguardava julgamento.
A Dra. Julieta Gandra era médica da minha mãe, já a tinha assistido logo a seguir ao meu nascimento, depois ao parto da 3ª filha e estava a seguir a 4ª gravidez quando a prenderam. O pânico que se gerou entre as mulheres que se viram assim desamparadas foi potenciado pelo sentimento de grande revolta pela pena que sofria aquela mulher extraordinária.
A minha mãe, que nunca foi mulher de se deixar abater pelas contrariedades, decidiu agir. Com uma amiga tão intrépida como ela, e sem avisar sequer o meu pai, apresentaram-se na PIDE e pediram para falar com o director, porque queriam ver a médica que estava presa. O funcionário ficou perplexo e começou um relambório a avisar que era melhor “as senhoras não se meterem nisto, ela é comunista, vão para casa se não querem ter sarilhos…” A minha mãe, exibindo os seus 6 meses de gravidez, sentou-se. “- Vou ficar aqui até a criança nascer. Tanto me faz ter a criança aqui ou em casa, desde que seja a Dra. Julieta a assistir-me.”
O Director recebeu-as, mandou chamar o meu pai, que apanhou um susto de morte quando lhe falaram da PIDE a dizer que a mulher estava lá. Largas horas depois, a teima da minha mãe não tinha desarmado. Vasculhada a vida deles e provada que nada constava de suspeito nos ficheiros, levaram-nos ao Hospital, onde ela estava num quarto com a janela cruzada por tábuas de madeira, lendo na penumbra. Ficou então combinado que ela podia ir a nossa casa no dia do parto ou em caso de urgência, desde que acompanhada de segurança e ficando o meu pai responsável caso houvesse qualquer tentativa de fuga.
Poupo-vos aos detalhes da tempestade doméstica que esta iniciativa desencadeou, mas a verdade é que, nos princípios de Setembro de 1960, a nossa casa estava rodeada de polícia a Dra. Julieta assistiu às longas horas do dia e da noite em que se prolongou o nascimento. O reboliço na rua juntava pessoas que se perguntavam quem é que ia ser preso ali, até que o PIDE de guarda acalmou os ânimos, puxando uma fumaça do cigarro: - “Não há novidade. É só uma criança que quer nascer em segurança…”
A história espalhou-se como pólvora. E, a partir daí, outras mulheres exigiram igual privilégio, e a Dra. Julieta foi autorizada a sair da prisão sempre que uma das suas clientes pedia a sua preciosa ajuda.
Em julgamento, ela foi condenada a 4 anos de prisão, foi transferida para Lisboa e, em 1964, foi considerada a “Prisioneira de Consciência” do ano pela Amnistia Internacional, saindo em liberdade pouco tempo depois. Nunca mais a vimos.
Morreu aos 90 anos, num lar, aqui fica o seu maravilhoso sorriso, com que tantas vezes confortou quem precisava.
Morreu uma grande Mulher.

in http://quartarepublica.blogspot.com/2007/10/julieta-gandra-uma-mulher.html

2007-10-12

DocLisboa 2007

O DocLisboa deste ano terá um programa especial dedicado a Angola.
O Programa especial de Angola no DocLisboa é o seguinte:
» Dia 26 Outubro (Sexta) no Grande Auditório da Culturgest às 23h:
1. OUTRAS FRASES - de Jorge António
2. ROSTOV - LUANDA - de Abderrahmane Sissako
3. a seguir: festa concerto no MAXIME (entrada livre) com Kalaf (BuracA Sound System) e Nástio.

» Dia 27 de Outubro (Sábado) na Culturgest às
14.30h

1. Debate sobre o cinema angolano
e

2. Às 16h no pequeno Auditório: O CARNAVAL DA VITÓRIA - de António Ole e MOPIOPIO - de Zezé Gamboa

Na bilheteira da Culturgest estará uma lista com os nomes de convidados. Quem estiver interessado poderá enviar o seu nome para: jorjantonio@gmail.com

2007-10-08

CHE

A famosa foto de Che Guevara, conhecida formalmente como "O guerrilheiro heróico", onde aparece o seu rosto com a boina negra olhando ao longe, foi tirada por Alberto Korda em cinco de Março de 1960 quando Guevara tinha 31 anos, num enterro de vítimas de uma explosão.
Só foi publicada sete anos depois.

O Instituto de Arte de Maryland - EUA denominou-a como

"A mais famosa fotografia e o maior ícone gráfico do mundo, do século XX".

É, sem sombra de dúvidas, a imagem mais reproduzida de toda a história, e expressa um símbolo universal de rebeldia, em todas as suas interpretações, e segue sendo um ícone para a juventude não filiada nas tendências políticas da moda.

Agora, perdoem-me, mas tem de ser. Faz hoje, dia 9 de Outubro, 40 anos que foi assassinado (porque não foi em combate, foi depois de capturado e sem julgamento, que era coisa que o regime ditatorial da Guatemala não queria arriscar) o mais mediático (porque houve mais, ah, se houve) dos "homens que não tinham mais nada a perder", como diz o Johnny Halliday na canção.
E, fazendo um favor a vós próprios e às vossas consciências, em abono dos sonhos que tivemos,
e da justiça planetária, contem aos vossos netos, sem sofismas ideológicos, porque não se trata aqui de propaganda, mas de JUSTIÇA, houve, algures, num tempo solidário e num contexto mais terreno, outros seres humanos que deram a vida pelos demais. Sem pedir nada em troca, sem mais frutos que o cumprir das suas convicções. Sim, que este homem não foi um banal e desprezível mercenário.
E se o mundo não é hoje uma mera herdade dos déspotas, aos muitos "ches" o deve.
E não se atravanquem com preconceitos anti-comunistas. Ele próprio, tinha as sua críticas a fazer ao sistema do "sol que alumiava a terra" e fê-las, como vos certificarei através dos seus próprios comentários. Com a autoridade de quem dá a própria vida como aval. Ele só queria que o mundo fosse menos cão, e que os vampiros não sugassem, indefinidamente, o sangue da manada, onde quer que esta estivesse. Como diz a Silvie, não tombaram em vão. E fizeram dum canto de guerra, um canto de liberdade.
Pode haver maior glória que esta?

2007-10-01

DIA MUNDIAL DA MÚSICA


DIA MUNDIAL da MÚSICA - 1 OUTUBRO

"Porque a Música penetra mais fundo na alma humana."
PLATÃO

2 Milhões de seres no início da história dos seres humanos desenvolveram olhos com pálpebras, mas ouvidos sempre abertos. É o primeiro dos sentidos que desenvolvemos, pois ao 3.º mês de concepção já o bebé tem o seu aparelho auditivo acabado. É pelos ouvidos que tomamos o primeiro contacto com o mundo exterior, e é pelos ouvidos que se conhecem pai e mãe com as vozes que inundam o caldo do ventre materno. A poesia dos sons embala-nos desde o berço, amniótico ou de palhinha, seja por caixas de música electrónicas, ou pela voz emocionada de mães e avós.
Não importa procurar definir o que é, porque para cada um de nós a Música é sempre alguma coisa. Conceito diferente para um esquimó ou para um filarmónico português, é certo, mas permitindo a comunicação entre cristãos e muçulmanos, africanos e americanos, profissionais e amadores, crianças e avós. Mesmo em povos para os quais não existe a palavra Música, e são muitos, tal é o lugar indissociável que tem nas funções que lhes dão o nome, estrutura de muitos dos rituais comunitários e atravessando todo o sistema educativo. Porquê educar pela e com a Música? Platão, muito antes de qualquer técnica de marketing ou investigação musicoterapeutica, responde de forma simples: Porque a Música penetra mais fundo na alma humana.

Porque muito antes de os homens organizarem os sons, os sons organizaram os homens.

Hoje, não deixe de ouvir um tema musical que lhe seja particularmente querido. Mas não o faça colocando o CD e lendo o jornal ou fazendo o jantar. Sente-se só para ouvir. E se tiver coragem, o melhor mesmo é cantar uma canção. Para si ou para quem lhe estiver mais próximo.

(excerto de Opinião - por Paulo Lameiro)