Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2008-03-10

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - XI

5/12

Deixo Goa e já tenho saudades dos cheiros, das cores, dos sabores, das suas gentes. Fico pensativo e recordo amores de todo o tempo e um poema do Agualusa, poema K, que te dedico minha Goa, meu doce sentir:
Há cores impossíveis no mercado (queria-te a meu lado para lhes medir o lume). E há murmúrios e perfumes e em todos eu me perco, tão sozinho. Apalpo as sedas, aliso o linho Dou cinco rupias por uma romã. Faltas-me tu - toda a manhã.

Chego a Bombaim capital do estado de Maharashtra e a maior cidade da Índia, com uma população estimada em dezasseis milhões de habitantes. Bombaim encontra-se na ilha de Salsete, ao largo da costa ocidental de Maharashtra. A sua região metropolitana é a sexta maior do mundo, com uma população de cerca de 20 milhões de habitantes. A cidade possui um porto natural profundo pelo qual passam metade do tráfego de passageiros da Índia e grande quantidade de carga. Bombaim é a capital comercial e do entretenimento da Índia. Tudo isto me é dito sentado num luxuoso autocarro enquanto percorro a cidade.

Fico sem saber se gosto ou não desta cidade. Não é para mim um murro no estômago enquanto percorro com o olhar esta cidade, mas no museu Gandhi, ao pensar em Bombaim, lembro-me da história dos sete cegos e do elefante contada por um monge budista que passava por Bijapur. Dizia ele:

Havia sete homens cegos, cada um deles pensava ser sábio, e foram levados junto de um elefante. Cada homem foi colocado em diferentes partes da criatura e pediram-lhe que dissessem, pelo sentido do toque, qual era a forma do animal. O primeiro cego percorreu a cauda com as mãos e disse, "Ah, este animal deve ser uma pequena cobra." O seguinte, que tocou no tronco do elefante, disse: "Não, é uma cobra muito grande." O terceiro homem sentiu a perna grossa e disse: "Estais ambos enganados. Esta criatura deve ser muito parecida com uma árvore." O quarto homem que segurava uma orelha, disse: "Não, não, tem asas como um morcego enorme!" O quinto homem sábio tentou rodear a barriga com os braços e exclamou, "Deve ser um cavalo com uma grande cilha!" O sexto, que colocou a mão na ampla testa do elefante, disse: "Não, irmãos, estamos enganados. Isto não é um animal, mas uma parede!" Ao sétimo homem cego haviam-lhe dado os testículos para agarrar e disse: "Estais todos enganados. Isto são apenas cabaças num saco de couro."
Os cegos ficaram tão perplexos com as suas respostas divergentes que não conseguíram acreditar que fosse o mesmo animal. Por isso cada um dos homens manteve a mão na parte em que primeiro tocara, deslizando a outra mão ao longo do corpo do elefante até que encontrava a mão do outro. Ao fazerem isto, os homens cegos descobriram que embora cada parte fosse diferente, juntas formavam uma só coisa. E apesar de mesmo assim não serem capazes de apreender a forma completa da criatura, os cegos tiveram a possibilidade de concordar que devia ser realmente uma criatura maravilhosa.

É assim Bombaim, uma criatura maravilhosa. Já noite dentro entro na nau Sá de Miranda que me trará de regresso ao Reino.