Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2008-01-26

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - IX

3/12

Goa hoje não é mais do que um pequenino Estado dentro de um país enorme que é a Índia. E o futuro? A minha deusa um dia disse-me que não há futuro. E que não importa a dor de hoje, nem a dor do passado, temos é que ser felizes no presente, mesmo na desgraça. Descobri no passado na história deste bocado de terra que a Inquisição cometeu aqui muitos crimes. Tento esquecer. Talvez a minha educação católica me reprima e me negue o dever de denunciar estes crimes. Não creio. Prefiro escutar o alvoroço das gentes em festa nas ruas de Goa do que pensar no inferno, no meu inferno. Cada dia que vivo nesta terra, com estas gentes, mais esqueço religiões e sou pela filosofia.
Sei que se quisesse ela viria e iríamos hoje a Margão. Sinto uma tristeza enorme de não a ter junto a mim e de mãos dadas irmos ver o fervor das cigarras pelas ruas. Não se pode ter tudo! Mas a tristeza que me invade o coração aumenta quando me perguntam de onde sou. Respondo sempre Angola e todos me perguntam: "Onde fica isso?".
Esquece meu!... Não interessa.

2008-01-13

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - VIII

2/12
Sopra uma brisa fresca e límpida quando regresso de novo a Panjim. Olho ao longe o rio Mandovi e sinto uma arrepio no corpo pelo medo do sonho dentro da minha longa noite. Um medo lento e largo logo ultrapassado pela chegada ao Bairro das Fontainhas. O meu destino não cabe na palma de uma única mão e pressinto os teus passos nas ruas que correm entre as casas de traça colonial, a Igreja da Imaculada Conceição e a locutora fazendo pose e anunciando as virtudes de se estar em Panjim. Fico cada vez mais a amar esta cidade. Aqui há história.
Percorro, passo a passo, as ruas do Bairro até que a tarde chega. Neste fim de tarde, como em todos os fins de tarde dizem-me, as gralhas ralham umas com as outras. Arranham o final de mais um dia com algazarra. Olho o céu avermelhado e penso que se fumasse acendia um cigarro e deixava que o fumo me levasse até ao teu encontro. Assim, com uma alegre indulgência, bebo uma cerveja neste doce e bárbaro botequim ouvindo falar konkani.

Danças em frente aos meus olhos sossegados, leda mansidão que me leva a não entender o que esse poeta universal, Camões, disse sobre as indianas. Afirmou que elas "nos respondem numa linguagem meada de ervilhaca que trava na garganta do entendimento, a qual nos lança água na fervura da maior ternura do mundo". Discordo do Luís Vaz e continuo cativo pela minha "escrava" que continua lá bem longe, numa presença eterna e que me deixa mais perto do seu corpo sereno que se confunde com a água do rio que atormenta este meu tempo que não avança. Fico calado. Mais vale não dizer nada.

2008-01-09

KANDONGUEIROS


Esta foto tirada em Goa Velha mais não é do que uma homenagem à minha amiga Guerreira que no seu blog farta-se de "malhar" nos kandongueiros da Lua. Pois é minha querida, Angola já começou a exportar "ideias" e dizeres que só os caluandas percebem. E que Deus nos salve do buraco em que podemos cair nas estradas por onde aparecem estes demónios.

2008-01-01

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA VII

1/12

Velha Goa. Pois... Goa velha!!! Nunca tinha estudado aquilo que me é dado a observar. Sinto que em Goa alguns ainda se referem aos acontecimentos de 1961 como "A Invasão" e os outros, os nacionalistas, dizem com orgulho "A Libertação" tremendo só de pensar e escutar que os freedom fighters fossem apelidados de invasores. Confesso que gosto de conversar com a gente e com gente que sentiu a morte por perto.
À noite estou na casa de Oliveira Fernandes, fundada pelo tetravô do actual dono. Simpáticos os seus residentes, a grande maioria ligada à antiga aristocracia católica, mostram-me a sua bela casa, de traços coloniais, com amor. Aprecio a forma quase coloquial como a casa me é apresentada como se de um museu se tratasse. Confesso que gosto da casa. Detesto o galo de Barcelos que me é dado a conhecer como símbolo nacional português e que se encontrava "vigilante" numa das divisões do palacete.
Sento-me numa mesa do jardim e fico a pensar na lição sobre "o segredo da cruz gamada" que me ensinaram à tarde. Segundo me contam a cruz suástica escolhida para símbolo do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães é sinistrogira. É representada com os braços voltados para a direita porque alguns dos fundadores ou inspiradores daquele partido teriam aprendido técnicas de magia tântrica e de xamanismo com uma ordem de monges tibetanos, os Barretes Negros, que se serviam daquele símbolo nos seus rituais.

Na cruz suástica dextrogira, presente em inúmeros templos hindus, cada braço simboliza um plano de existência, o Mundo dos Deuses, o Mundo dos Homens, o Mundo dos Animais e o Mundo Inferior. No budismo representa o Selo sobre o coração de Buda, e no Tibete é usada como um talismã da fortuna e boa sorte.
Quero voltar a Panjim, talvez amanhã.