Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2007-08-14

TORGA

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

2007-08-13

CENTENÁRIO

Miguel Torga (nascido em 1907)

Poeta, ficcionista e ensaísta. É o pseudónimo literário do médico Adolfo Correia da Rocha, nascido em S. Martinho de Anta, aldeola perdida na província nordestina de Trás-os-Montes. Aos 13 anos abandona o Seminário de Lamego para embarcar para o Brasil, onde vive cinco anos com um tio, trabalhando numa fazenda (Minas Gerais). Regressando a Portugal, completa em três anos o curso dos liceus, matriculando-se depois na Faculdade de Medicina de Coimbra, onde, em 1933, finaliza o curso. em 1939, fixa-se definitivamente em Coimbra. A partir de 1927, Torga associa-se a alguns camaradas (José Régio, João Gaspar Simões, Casais Monteiro, Vitorino Nemésio, Branquinho da Fonseca e Carlos Queiroz entre outros) que, através da revista Presença aderiram à Revolução Modernista. Em 1930, porém, rompe definitivamente com a Presença por duas vezes mais, intentou poetizar em grupo (as revistas Sinal, em 1930 e, mais tarde, Manifesto), mas acabou por desistir quando concluiu que a autenticidade poética é demasiado sublime e exige o máximo de pureza e fidelidade pessoal, Daí por diante, no seu monasticismo conimbricense, intentará "ser de todos", em vez de "camarada de poucos". Poesia de resistência e cântico de liberdade, Diário (doze volumes publicados desde 1941) de "um contemporâneo de Hesíodo", no dizer de Sophia de Mello Breyner, que é também um comtemporâneo da "Morte de Deus" e do esmagamento do Homem por totalitarismos ferozes, toda a obra de Torga anseia pela descoberta de caminhos novos para o reino das coisas belas e possíveis, incluindo o amor entre os homens. Orfeu rebelde, e possíveis, incluindo o amor entre os homens. Orfeu rebelde, Torga é, no dizer de David Mourão-Ferreira, a "reencarnação de um poeta mítico por excelência - daquele que vive na intimidade das forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las com o seu canto - e alto
e
xemplo de constente rebeldia, numa atmosfera que pretende afixiá-lo.

"Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
".