O CAPIM DA MINHA ESTRADA
O vento já não sopra aqui. Não sei se foi para longe, se levou as ideias ou se secou mesmo o pensamento. Calou a chuva que caía e que perfumava os caminhos da nossa aldeia. O perfume que vinha da terra e que ondulava à minha frente como as ondas do teu mar azul que baloiçava o barco do destino, também já não está aqui. Sabiamos que tudo estava para acontecer. Até o futuro. Sabiamos que não íamos mais chorar. O sal das nossas tempestades estava mesmo à frente de nós. Tudo se constrói com as nossas mãos entrelaçadas, ao fim da tarde, numa vontade de querer fazer e querer estar. Mesmo longe. Sinto o bater do teu coração. Cada vez mais forte. O chamamento para nova etapa dos sonhos é mais forte que a vontade de estar quieto. Mesmo a olhar o fim do horizonte. Amanhã subo à montanha e grito para ver se me ouves. Sei que estás comigo e que me vais dizer que gostas de mim. Assim eu te amasse para ficarmos juntos o resto das nossas vidas. E se calhar falta tão pouco para o final da viagem. Muito pouco. Mais de metade do caminho já está percorrido. Agora luto para te poder dar um beijo e sair para dormir sossegado no capim da estrada da minha aldeia. Leio, devagarinho, o poema que me diz que havemos de voltar.
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