Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2008-01-13

A MINHA DESCOBERTA DA ÍNDIA - VIII

2/12
Sopra uma brisa fresca e límpida quando regresso de novo a Panjim. Olho ao longe o rio Mandovi e sinto uma arrepio no corpo pelo medo do sonho dentro da minha longa noite. Um medo lento e largo logo ultrapassado pela chegada ao Bairro das Fontainhas. O meu destino não cabe na palma de uma única mão e pressinto os teus passos nas ruas que correm entre as casas de traça colonial, a Igreja da Imaculada Conceição e a locutora fazendo pose e anunciando as virtudes de se estar em Panjim. Fico cada vez mais a amar esta cidade. Aqui há história.
Percorro, passo a passo, as ruas do Bairro até que a tarde chega. Neste fim de tarde, como em todos os fins de tarde dizem-me, as gralhas ralham umas com as outras. Arranham o final de mais um dia com algazarra. Olho o céu avermelhado e penso que se fumasse acendia um cigarro e deixava que o fumo me levasse até ao teu encontro. Assim, com uma alegre indulgência, bebo uma cerveja neste doce e bárbaro botequim ouvindo falar konkani.

Danças em frente aos meus olhos sossegados, leda mansidão que me leva a não entender o que esse poeta universal, Camões, disse sobre as indianas. Afirmou que elas "nos respondem numa linguagem meada de ervilhaca que trava na garganta do entendimento, a qual nos lança água na fervura da maior ternura do mundo". Discordo do Luís Vaz e continuo cativo pela minha "escrava" que continua lá bem longe, numa presença eterna e que me deixa mais perto do seu corpo sereno que se confunde com a água do rio que atormenta este meu tempo que não avança. Fico calado. Mais vale não dizer nada.