A MINHA TRISTEZA A 13 DE JUNHO DE 2005
O meu barco continua parado no meio do oceano. Vai e vem com as ondas do mar imenso e parece não sair do lugar onde ficou ancorado. Está perdido no tempo, num tempo contrário, anestesiado por uma inquietação entorpecida. Olho as águas, como se fossem o espelho de que necessito para me encontrar, e vejo uma criança chorar. Sonho com o fundo do mar, ouvindo o fundo de mim mesmo. Olhos cinzentos, muito grandes, desenhados na espuma dos sonhos, boca num rosto apagado, palavras como flores numa poça de água. Conflito entre os músculos e os nervos. E não sei quem vai vencer. Vejo-me olhado, sem juízos de valor, agradecendo a gratidão deste mar que me pode levar à terra prometida ou à complacência de um mundo que me vigia, questiona e me pede para ser sentinela do destino. Adormeço entre aventuras, entre nobrezas e misérias, dramatizo os meus desejos, e entrego-me à poesia da dignidade, dos sentidos, da ousadia.
Deixo de sofrer a eterna ressaca e agarro-me à bóia universal, ao amor, na procura de uma saída para a vida sem horizontes. Sinto uma nostalgia demasiado intensa e violenta, mais forte que a esperança. Necessito de outros marinheiros para tirar o meu navio deste impasse marginal e vadio. Pinto com novas tonalidades, com o sal das minhas lágrimas, um novo corpo, um rosto, uma voz, e apago a tristeza amarga da saudade dos que já não estão.
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