SONHOS DO SUL
A lua ilumina o som dos batuques que levam a poesia para bem longe desta Coimbra fria, quase gelada. Ao luar os teus cabelos de marfim sugerem beijos sensuais como os poemas do sul cantando a rota das canoas. Talvez este som do rio me fustigue os teus lábios túmidos cheios de bela virilidade mordendo a nudez de um cacho de uvas. Como são belos os nomes dos rios da minha terra!
Nos Prazeres da Carne, contando estranhas belezas das gentes da minha terra e das suas histórias, encho as grossas veias que mergulharam no vasto e coleante corpo do Zambeze de um imenso líquido de vida. Todo o nosso tempo cantado pelos capitães de areia do nosso tempo, embarcados nas canoas da ilusão, ajudados pelos sonhos de Jorge Amado e abençoados por Imanjá nas praias da Baía. Esse tempo que nos diz que a noite nua é fremente, amante, tempo conquistado a sangue e terra, na descoberta palmo a palmo de mais sol.
Perto do final, antes do silêncio ajoelhado pelas lágrimas que o cacimbo tenta esquecer, os uivos do vento adormeçem-me o corpo transido, contente com as dádivas de Baco que me trazem alegrias e tristezas ou nada disso. Mudo o rumo do caminho longe e bebo mais uma caipirinha. Gelada como o tempo de ontem. Com os amigos. De cá e de lá. No fim da noite tu dizes-me para não te chamar bela mas simplesmente mulher. E pela noite fora as ondas do nosso prazer enfeitam com encantos mil as linhas do teu corpo, amor.
<< Home