Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-05-09

O BEIJO


Havia entre eles uma cumplicidade de amantes. Ao final da tarde sentavam-se na mesa do café de todos os dias e trocavam olhares sempre ternos. Os seus olhos verdes cruzavam-se com os castanhos fortes dela e pareciam mais brilhantes que o verde da sua sagrada esperança. Era uma cumplicidade feliz que não se traduzia só nos olhares trocados nas tardes dos dias que corriam rápidos. O amor entre eles adivinhava-se na felicidade que se sentia quando entrelaçavam as suas mãos ou trocavam beijos de paixão. A felicidade é como o mar azul do oceano dos nossos sonhos. Vai e vem e escolhe, sem saber a razão, a areia onde se vai deitar. Flutua como o vento que seca a pele de quem olha o zulmarinho à procura do pôr-do-sol dos amantes. Num dia de Inverno, o amor deles começou com um beijo pedido com ternura, ou terá sido roubado? Nunca se importaram. Sabiam que os beijos, mesmo os roubados, tinham o sabor da doçura das marés.
Amavam-se muito, contra tudo e contra todos. Até contra as profecias anunciadas pela hipocrisia das pessoas. Uma paixão que gostavam de viver e que os fazia seguir em frente. Esperavam que todos os momentos fossem eternos. E era na luta do amor, corpos suados e cansados, que ficavam a viver os momentos mais felizes das suas vidas. Às vezes em silêncio. Na sua felicidade, trocada com carícias dos lábios prenhes de desejo, por vezes pareciam que andavam na praia dos segredos e riam-se alto contra o barulho das ondas. Como adoravam aqueles momentos dos sonhos que só pertenciam a eles. E era nesses momentos que voltavam sempre à ternura das palavras, dos gestos, das brincadeiras, do sexo, da intensidade do amor vivida a cada gemido. Sentiam um intenso prazer conseguido com um orgasmo que não conseguiam explicar. Pareciam felizes e eram. A felicidade deles era muitas vezes saboreada na doçura de um beijo, muitas vezes trocado em frente do mar que coloria de azul a imaginação de um amor sonhado à distância de um oceano. O mesmo oceano que os separava da enorme dúvida de seguirem o mesmo caminho. De mãos dadas trocando o beijo mais meigo que só eles podiam trocar.