ESTRADA VAZIA
Nunca gostamos de percorrer as estradas da vida por vontades que não são nossas. Ou porque encontramos as estradas vazias ou porque de tão congestionadas as percorremos sem cessar. Num vai e vem deprimente. Assim deixamos os lugares, que julgávamos nossos, como se fossem uma sala vazia. Mas nos lugares fica sempre um pouco de nós. Fica, quase sempre, um pedaço dos sentimentos que não trazemos mas cuja perda sentimos tanto. Sentimos o eterno desejo de não cruzarmos a berma da estrada da solidão. Não conseguimos ficar à margem das coisas, das pessoas, dos hábitos, das conversas, dos cheiros, das cores, dos sons, e, muitas das vezes, das razões do sofrimento. Deixamos muitas coisas feitas de muitos tempos. E se temos a tentação de começar tudo de novo, de mudar de vida, também é verdade que logo olhamos para trás e queremos ver o que ficou lá longe.
E é com um sorriso que eu gosto de percorrer a estrada e ser acolhido na tabanka onde antes cresci, brinquei, descobri, amei. Onde antes aprendi a ser eu. Nunca se cresce transformando ou destruindo os espaços da nossa infância.
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