Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-03-24

NOVEMBRO


Com tristeza descubro que em Fevereiro ou Março ainda não é verão e o teu olhar está, amorosamente, húmido pelo orvalho das noites frias. Será em Junho ou Agosto? Sim, é de certeza nesta época, porque aqui os dias são longos e correm lentos, muitas vezes selvagens e alegres. O vento rola pelas dunas, o mar em espuma desaba inteiro nas areias da praia mordendo os risos de cada um de nós. Ah, mas em Novembro acordo desta indolência porque oiço as vozes gritar que somos livres. Declaramos, em Novembro, perante o mundo, as lendas e os mitos das madrugadas de esperança. Nasceste, assim, pela noite dentro, inventando caminhos que vão ao encontro do cruzeiro do sul e carregados de versos que rasgam as sombras que nos cercam.
Em Novembro, se pudesse, andaria na curva dos teus olhos onde procuro uma lágrima. Ou será de um beijo para adormecer na tua boca? Como gosto de percorrer os teus cabelos, vaguear no teu corpo doce, deitar-me ao pé de ti e voltar à terra amaciada pelas tuas mãos. Amo-te pela noite dentro até a luz das colinas invadirem a janela do nosso contentamento. Vais correndo ao encontro da minha felicidade, neste Novembro que não se perde na memória mas que cresce na ondulação do nosso mar. Talvez a manhã comece novamente e eu te siga, nos silêncios, à procura do eterno desejo de te beijar, devagar. A brisa vinda do sul entrelaça os nossos corpos carregados de esperanças mas cansados de tanto esperar. À noite adormeço no teu peito e tu afagas o meu rosto de criança.
Novembro diz que podemos ser felizes e ter todo o amor da terra. Suspiro pela água, pelo vento, pelo cântico dos pássaros, pelos lábios quentes que percorrem o meu corpo. Sonho com Novembro. Como sou feliz com o meu corpo aberto recebendo as primeiras chuvas caídas de um céu apaixonadamente azul. Mas às vezes, era bom que tu viesses. Não me importo que seja em Novembro. Mas podia ser em Junho.