Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-09-15

ARGOLAS E ARGOLADAS

Sonhava o Guto com as loiras que ele topou, em período merecido de férias, na praia dos Tomates, e que se torravam na areia amarelinha, ora de frente, ora pela retaguarda, mas nunca olhando o zulmarinho. Guto ía emborcando umas bejecas, final da tarde, pós laboral como dizem os técnicos de formação comunitária, no bar do sô Jaquim. Algumas delas, recordava em DVD, apresentavam uma barriguita desconfortável que Guto nunca soube se seriam gases, celulite ou talvez das jeans apertadíssimas, ou dos biquinis, e que dava para ver os refegos das "piquenas", intra e extra coxas. Modernices, avisavam os amigos. Mas o que ele adorava era ver os metais espetados na pele das fêmeas. De pequeno, só tinha visto as argolas nas orelhas das namoradas e das mulheres da aldeia. Algumas pareciam o arco com que ele brincava na sua rua, mas estavam sempre "espetadas" nas orelhas das infantas. No nariz só na vaca da tia, não que a tia fosse isso, mas porque era criadora de gado e tinha algumas vacas que eram cobertas, de vez em quando, pelo touro do tio Fanfas. E para não darem muito ao rabo, enquanto se cumpria a cobrição, tinham uma argola no nariz para as manterem amarradas e seguras. Anos mais tarde, o Estrôncio do Gutinho, ouviu falar em sexo seguro e com amarras. Baralhou tudo quando levou a Cecília para uma noite de sexo, e a amarrou à cama e para segurança começou a ler-lhe o Kamasutra Gay. A partir desta data nunca mais teve ninguém do género feminino que se aproximasse dele. Daí a sua teoria que as mulheres são como as aves migratórias. Nunca param no mesmo ninho, mas voltam sempre ao mesmo local. Bloquista, era o que ele era.
Pensava ele, então como era possível ter argolas no umbigo, na língua, nas sobrancelhas, nos queixos e até, já ouvira dizer, nunca vira, nos lábios. Nos pequenos e nos grandes. E dava voltas ao miolo como era possível estar na cama com uma miuda destas, algumas bem bonitas por sinal, e não sair com uma argola no material do prazer. Sim, como era possível sair-se ileso duma relação com as argolas! Por vezes tinha pesadelos quando matutava muito nisto. Pensava no que vira na feira da Senhora da Transladação dos Ossos de S. Francisco Xavier onde havia uma barraquita, a Barraca das Argoladas. Um homem tinha que meter a argola no gargalo do pau da garrafa. Nunca conseguiu ganhar uma garrafita. Agora como sería ele a enfiar a argola no seu pauzito. Acordava sempre cheio de suores e sentado na cama agarrado aos boxers à procura da argola e do gargalo e a tremer que nem o Piloto à chuva. O Piloto era o rafeiro que passava as noites a uivar debaixo da janela do seu quarto. Mas também não desgostava destes pesadelos pois, para acalmar os nervos, colocava um filme no gravador e assim se esquecia do terror das noites redondas com argolas. Nunca soube a resposta para o que via nos filmes. A estas noites chamava Curso Nocturno da Arte de Bem Cavalgar Sem Sela. Ficou sempre cheio de dúvidas, e nunca meteu explicadora, porque haveria mulheres a gostarem de ter sexo contra a porta do frigorífico, na mesa da cozinha, na padaria, em cima do estirador, na furgoneta avariada, no baloiço do quintal... Sexo na pradaria já ouvira e vira. E mais admirado se sentia porque as ditas mulheres ficavam húmidas em dois segundos e atingiam o orgasmo com as calças vestidas, mesmo nas casas de banho públicas. Porcas e badalhocas era o que elas eram, murmurava a caminho da cama. Pensamentos de extrema direita, afiançou-lhe o amigo que o aturava nas conversas do café .