Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-09-12

QUERER

Preciso de uns copos para ver se não me dá uma coisa dita má mas com medo de ser uma má coisa. Claro que há momentos em que não vale a pena ser esforçado porque a veia não sangra, o coração não bate, o peito não dói, o sentir não existe, a cabeça não pensa e tudo fica menos claro e menos real. Como é possível estar sentado na esplanada, sentir o vento soprar, o zulmarinho cantar canções de amigos, e saber que na mesma aldeia existem lugares onde o ruído é ensurdecedor, o ódio esfaqueia o livre pensamento, o amor não existe? Assim, mermão, só me apetece estar sózinho, frequentar os locais que quero, sentar-me à mesa com os companheiros de estrada, viver a vida que não cansa. E saber que há gente gira com vontade de rir, cantar, escrever, chorar, musicar, dançar, poemar, estar perto de nós. Às vezes mesmo longe. E que quer, mas não pode, contar as histórias da banda, as tristezas e alegrias do momento, cantar os poemas do nosso contentamento. De sermos livres. Corto as grilhetas que me amarram à fúria da tristeza e da mediocridade.
Como é lindo o brilho do olhar dos meninos do meu Planalto. Gosto do perfume dos seus sorrisos afagados pelas mãos ternas das suas mães. Mulheres de coragem que venceram o ódio, o medo, a morte. Lindas, com as suas tranças percorrendo as estradas do futuro à procura da felicidade. O meu tambor bate forte ecoando nos silêncios da minha ternura procurando o futuro e a felicidade nas estradas do lá longe. Bebe muitas comigo, mermão, hoje e sempre e fala-me do que sentes e vives. Porque eu preciso de ouvir e sentir o zulmarinho ecoando nos rios que me inundam o corpo.