Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-09-13

LUGAR DE AMOR E POESIA

Em qualquer lugar do mundo há momentos de fazer amigos, estimular o conhecimento, usar a imaginação, ouvir, de mansinho, a música da vida saída da cascata das ribeiras e das folhas das árvores. Até na Serra da Estrela. Em Seia, no Museu do Pão, canta-se e fala-se de carinho, alegria, fantasia, prazer, paixão, doçura, amor, energia, poesia. Inteligência. Mesmo longe do zulmarinho, que amo, sinto o prazer de estar na casinha pequenina, lugar que ilumina o sonho, a felicidade e a liberdade, quando a gente quer amar e sentir-se amado. Espaço de rara beleza, sentimos que não é tarde, entre o almoço e o jantar, de nos darmos. Procuro no teu olhar as palavras da fantasia.
Gosto de ficar na dúvida entre o querer e o não querer, entre a poesia e o pão, entre o alvoroço das cumplicidades. Procuro a tua boca e encho-te de beijos. Bebo um gol da loira mais fresca do momento ou...
Vou saborear a quentura de um tinto que me recorda o namoro e que me faz explodir, em tempestades de mar salgado, o tempo da vida. Neste local onde é proibido esconder os sentimentos, o amor vence a poesia, mesmo lendo o que João Borges nos deixou em poema e que nos recorda que "é o pão posto à conversa no silêncio das pedras, sózinho no cais da borda de água... Anónimo entre os anónimos na paisagem". Assim, simples recordo os tempos sem pão e lembro a canção do Cartola que ouvi no café da manhã e que me advertiu que "as rosas não falam, apenas exalam!".
A água do ribeiro sumiu-se no chão, vejo as mulheres manearem as ancas, as pedras choram com as palavras e, eu, relembro os silêncios que se ouvem quando, nos moinhos de vento, o moleiro coloca as rolhas nas cabaças para elas não assobiarem as tristezas do luto e as velas são colocadas em cruz, anunciando a morte de quem amassa o pão e nos mata a fome. Mulher e mãe, xailes negros, choram e rezam a Nossa Senhora da Conceição.
Nossa Senhora da Conceição, te faça bom pão. São Mamede te levede. S. Vicente te acrescente, para mim e para toda a gente.