Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-04-12

COLONIALICES

Cansado das visitas aos tempos idos, repouso no silêncio da Mesquita de al-Azhar, principal centro de aprendizagem e o mais respeitado do mundo islâmico. O silêncio faz-me repetir os sonhos que me animaram ao percorrer as ruas do bazar. Explosão de brilho e cor, vendedores luxuriantes, paixões saídas de uma dança do ventre, trajes garridos. Regateio o preço de tudo e nada. De repente, apetece-me falar com os amigos. De cá e de lá. De longe.
Devagarinho, sento-me na esplanada do café Fishawi's. Já percorri as ruelas do bazar de Khan al-Khalili, o bazar construido em 1382 por Garbas al-Khalili, estribeiro do sultão Barquq. O bazar cresceu à volta de vários khans (também chamados wikalas) que serviam de armazém e alojamento para as caravanas de mercadores.
Repleto de pequenas mesas, paredes repletas de espelhos enormes e antigos. Mais de 200 anos de história e estórias. Hoje sim, fumo sheesha e peço uma beerah estupidamente gelada, transpirada e abençoada pelas gotas orvalhadas da paixão. A minha Stella escorre-me suavemente pela rua do meu desejo. Apetece-me um beijo meu amor. Conta-me aquela estória que os meus amigos vão gostar de saber.
Em 1845 Luis Filipe de França ofereceu um relógio a Mohammed Ali Paxá que se encontra na torre da Mesquita de Mohammed Ali. Relógio que foi trocado por um dos obeliscos de Luxor, hoje objecto de relevo no Palácio da Concórdia, em Paris. Relógio que nunca funcionou por falta de algumas peças.
Espertezas saloias, dirá o meu pai que é transmontano. Economia de mercado, gritam os democratas. Globalização, ouve-se dos politicamente correctos. Colonialices, digo eu que sou africano.