Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-03-22

TAPETES

Às vezes o destino, seja o fado ou a direcção para onde vamos, leva-nos a sítios mais que perfeitos. Confesso que Almalaguês não é um sítio que esteja nos catálogos das multinacionais do turismo, como não está, de certeza, Torre de Bera, Chinguar ou Assomada. Mas Almalaguês sempre me fascinou, desde os tempos da ciência, da cultura, da música e da história. Passava horas a ver fiadeiras a bordar o linho e a fazer tapetes que só mãos de artistas conseguem. E a ouvir as suas histórias e escutar poesias de séculos. Se Arraiolos é um marco na arte de fiação, Almalaguês sempre viveu da amizade e da solidariedade de quem sabe o que quer. Um dia levei um tapete desta região a um amigo de Buenos Aires que me disse que nem Van Gogh tería feito melhor. Confesso que a partir daí sempre tentei olhar para a tapeçaria de forma diferente. Em Almalaguês, Arraiolos, Fez, Sid Bou Said, e antes da guerra Bagdad. Turcos ainda não, a não ser em Berlim. E comecei a saber que afinal quando me deitava no tapete o fazia já com alguma paixão, sonhando mas tendo a carteza que nenhum deles era voador. E quando ía para o tapete, mesmo no judo, sempre tive a coragem de escolher as companhias. Ainda hoje leio e amo no tapete. E separo o bom do mau. Achei sempre degradante os tapetes de papelão à beira das estradas para as romeiras fazerem o seu negócio. Talvez um dia Almalaguês seja um ponto de encontro da cultura da tecelagem.