JOÃO PAULO
Confesso que a unanimidade e a unicidade sempre me fizeram comichão. Melhor dizendo, dão-me um prurido que não consigo nem aliviar com banhos gelados nem mesmo com cetirizina. Mas como quem tem comichão coça-se...
Depois também não sou apreciador de que morto, o tipo era um amigalhaço, um bom homem, o melhor dos seres humanos. Detestável! Somos o que somos e não devemos mudar depois de estarmos gélidos deitados em decúbito dorsal na pedra ou na caixa de cedro do Líbano à espera de nos meterem no buraco escuro e fundo. A morte é a pior das hipocrisias. Parece que não temos um único ser humano que não goste de nós. Todos nos adoram. Por isso é que eu amo a vida.
Lembro-me que estes meus sentimentos podem ser recordações de um tempo de escola em que perdemos, aos 14 anos, uma amiga. A mãe do nosso amigo Hélder tinha morrido de cancro. Logo tinhamos direito a mais um dia de feriado às aulas para, unidos em unanimidade e unicidade, irmos ao funeral da mãe do amigo. Quase dia de festa. A professora Yolanda vendo que tudo estava de pernas para o ar resolveu dar-nos uma lição que ficou para a vida. Ela ensinava montes e serras, países e capitais, cidades e rios, mares e lagos, produções e culturas, recursos naturais. Mas nesse dia a aula foi sobre a vida e a morte, a amizade, o ser humano, a solidariedade. E choramos solidários e unidos a mãe do nosso Hélder.
Por isso detesto a Roma destes dias. Até sempre João Paulo.
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