Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-08-14

TITO PARIS

Foto: Nélson Castro (Nelsinho)

Há momentos mágicos que, dizem, só vivemos uma vez. Não me parece que a sabedoria popular tenha razão. Tive o previlégio de conhecer Tito Paris numa das minhas visitas a Cabo Verde. Um dia na Ilha do Sal, noite de lua cheia, as estrelas passando de mansinho e o mar cantando canções de embalar, fomos beber mais umas loiras e no botequim tocava e cantava uma divindade que tinha nome de poeta. Na sua voz rouca, simples e encantadora, Tito Paris dedilhava as cordas de uma viola cantando uma morna de Paulino Vieira. Foi um momento mágico, acabando numa amizade, que se perdeu no vasto oceano que nos separou. Havia de lhe comprar umas cordas para o seu violão quando regressei a Portugal. Nunca soube se as recebeu.
Esse momento mágico repetiu-se quando, uns amigos que me enchem de felicidade, me convidaram a jantar na Casa da Morna em Lisboa com o objectivo de conhecer pessoas de grande personalidade e cultura e que, virtualmente, ao longo dos tempos fomos granjeando uma enorme amizade. Nelsinho e Nina são amigos que nunca havemos de esquecer. E neste encontro mais um momento mágico acontece. Oiço umas notas tocadas ao piano, uma voz rouca, um poema, uma morna e Tito Paris. Ali só para os amigos. Não tive coragem de lhe recordar os momentos vividos na Ilha do Sal. Às vezes sou assim. Talvez haja ainda tempo para outros momentos. Aqui em Lisboa, lá em Cabo Verde ou talvez em Niterói com o violão de Martinho da Vila por companhia. Um abraço do tamanho do mundo aos amigos, e deixo-vos com o poema/morna de Paulino Vieira, que cantado pelo Tito Paris é sinfonia para sempre ser escutada.


UM CRIA SER POETA

Se na Mundo tem
morna e morna dedicote
tonte morna ke bô ta merece
se beleza ta trazebo inspiração.

Esse bô beleza
ke mais k'um belo horizonte
enfeitod k'um bom pôr do sol
ou um arco íris
muito bem estakote.

A mi ja'm cria ser poeta
pam fazê um mar de poesia
pam compara esse bô beleza ku
natureza
parcém nem mar nem lua cheia
ném sol brilhante nem noite
serena
sta compara ku formuzua di bô
corpo.

Pombinha mansa
di odjos meigos sem maldade
Bô corpo formoso mas sem vaidade
tarmá kes bô sorrise inocente.

Sorriso doce ki ta desperta
alguém ambição
mesmo ke for debôche de tud
humilhação
cré conquista bô coração.