ÓCULOS
Foto: Miguel Fernandes
O que escrevo eu, aqui e agora? Coloco "uma lágrima no canto do olho" da saudade e o que me resta? Dizer que fico sentado no passeio, ali prás bandas da avenida Lisboa, entre o Catambor e o Prenda, a olhar o céu e ver como as estrelas voam rápidas enquanto em Kinfangondo a cor das estrelas tinham o brilho da cor do vermelho do sangue? Ou lembrar que o CDUA, com o Rui Pereira, O Romero, o Múrias e outros que não recordo o nome, bailavam no pavilhão, encestavam bolas atrás de bolas e até ganhavam ao meu Benfica de Lisboa? Ali fiquei muitas noites, a sonhar, até que um dia, talvez pelas cucas e um amor novo conquistado na faculdade e amarrado ao coração de uma mulata, lá prós lados da Ilha, jantar no Kussunguila e promessas de futuro novo, vi passar, de repente, nos céus estrelados do aeroporto, que mais tarde se chamaria de 4 de Fevereriro, um OVNI. Sim daqueles objectos não identificados e que na manhã seguinte, ou já seria já tarde, o mujimbo do povo chamaria de espião carcamando. Sei que mais tarde o povo do Catambor resolveu acabar com as minhas visões e nacionalizar-me o objecto de ajuda ao sentido do olhar. Não fosse eu anunciar qualquer virgem senhora de xaile negro em cima da mulemba da minha cidade. Os meus óculos voaram num repente. Penso que um dia os vi a passear na Marginal mas já com lentes escuras. Por causa do sol que tem mais brilho na nossa baía. Luanda estava linda.
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