Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-07-27

O ROUBO

Subia a avenida pensando como eram lindas as manhãs na minha cidade. Prisioneiro dos meus sonhos entrei, ali bem juntinho à sede do Benfica de Luanda, pelo jardim que me anunciava que novos dias íam chegar carregados de esperança. Não a sagrada esperança que essa era mais difícil de obter. Mas a esperança de quem acreditava, e ainda acredita, que é possível construir a nossa tabanka na igualdade e nos desejos de um homem novo. Nunca saberei se ía a caminho do Kinaxixe ou se ía mesmo a caminho do nada.
De repente, encontros que não queremos. Deixa cá ver o cumbú que trazes senão temos maka, tu tens mais que eu de certeza, és um branco de merda, colonialista, foram algumas das "conversas" havidas entre este viajante dos sonhos e o rapaz desesperado e já sem desejo de ver o futuro sagrado e de esperança.
Aberta a carteira, sobravam quinhentos escudos para o resto de todo o mês. Começaram as negociações bilaterais, entre dois angolanos, não necessitando de ajudas da comunidade internacional. Que o dinheiro era para o final do mês, mesmo comendo na cantina universitária ninguém dava nada porque o nada era do povo, a fome também ía chegar ao branco colonialista, e mais não sei quê! No final, aperto de mão toma lá duzentos e cinquenta para ti e duzentos e cinquenta para mim. E não te esqueças que estamos juntos e a vitória é certa.
Luanda tinha destas coisas nos tempos idos de setenta e cinco. Talvez mais um dia de sorte para quem sonhava com novos horizontes e uma tabanka de Cabinda ao Cunene.