Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-06-13

ALÁ NÃO É OBRIGADO

Foto: Adam Nadel

Alá Não é Obrigado é o nome de um livro de Ahmadou Kourouma, um costamarfinense nascido em 1927. Mas podia ser o slogan comercial de alguém que julga que deus e o profeta não seríam obrigados a ver futebol e o prazer que ele provoca. Imagens como a que Adam Nagel captou na Serra Leoa revelam que o mundo anda distraído e que nenhum mundial, seja de futebol ou de coisa nenhuma, pode esquecer os casos de sobrevivência e de muita força que existem em muitas regiões do planeta Terra. O mundo não pode esquecer que muitos destes casos são provocados, na Serra Leoa, na Costa do Marfim, em Angola, na Libéria, e em muitos outros locais, por meninos soldados. Meninos abandonados à sua sorte e que, órfãos de família e de valores, são integrados em exércitos cujos líderes constituem uma paranóia de exemplos que se tornam lembrados pelas piores razões. Sádicos, loucos, psicopatas, figuras ridículas, vivem diariamente com a morte, a traição, a tortura e a mutilação. E muitos destes meninos usados pelos senhores da guerra só têm como principal preocupação, sobreviver, alimentar-se, encontrar um sítio para viver e, acima de tudo, evitarem ser assassinados.
Alá não é obrigado a ser justo em todas as coisas desta Terra. E pronto. Mas devia olhar para as estranhas alianças entre chefes de Estado e criminosos de guerra, a corrupção generalizada, a culpa, as boas intenções e as dificuldades de quem quer ser criança. Realidades terríveis que não são apagadas por alguns "meninos prodígios" que são idolatrados por muitos milhares de distraídos que sentados em suas casas, em frente de um televisor, se esquecem de dizer que estão fartos de tanto sofrimento. Assim, Alá não é obrigado a ver, a fazer tudo, se não o obrigarem a olhar para as outras preocupações dos humanos.