Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-03-01

TABAIBOS? FIGOS, CRUZES, CANHOTO!

Esta a minha pequena contribuição para esclarecer (?) uma questão que o meu grande amigo, Zecara, Mestre dos Vampiros, tornou pública e para discussão. Fruta existente, também, em Angola com o nome de tabaibos.


Já passava da meia noite. Uma noite normal de urgência num Centro de Saúde em que muitas das vezes as noites são procuradas por quem sofre de dor de alma. Um jovem, aparentando uns vinte e poucos anos, entra pela sala do médico com um certo "speed", como a vida estivesse por um fio. Ao princípio não se percebe bem o que aconteceu. O jovem encontra-se sozinho, provavelmente deixado à porta do hospital, por quem se diz amigo, como muitas vezes acontece. Tenta-se uma conversa que logo de início se mostra difícil. Qualquer tentativa de diálogo, para obter respostas, esbarra num riso incontrolado do jovem. Uma troca de olhares entre a equipa de serviço não surte efeito às perguntas feitas no silêncio da noite. A noite avança sem qualquer perspectiva de um final feliz. De repente, o jovem levanta-se e começa, nuns movimentos circulares e repetitivos, a tentar meter um bando de galinhas, imaginárias, numa capoeira que não está lá. O quadro começa a ter algum colorido e já se percebe que a luz ao fundo do túnel pode significar o princípio de um diagnóstico. Todos pensamos numa noite bem consumida, com a habitual mistura explosiva de álcool, drogas e sexo. A chamada iniciação. Só que as galinhas não obedecem ao seu jovem pastor e nunca mais chegam a entrar na capoeira inexistente. Sedação quase obrigatória e, algum tempo depois, o jovem tem cumprido a sua missão. Já não existem galinhas à solta na noite fria da serra. Na manhã seguinte, não muito cedo, o jovem vai despertando de um sonho e confessa que a noite foi passada com uns amigos, em comunhão com as estrelas e o luar, sem sexo, bebendo água e comendo figos do diabo. Em quantidade que chegou para um fim de dia alucinante e, o diabo seja surdo e mudo, com as galinhas à beira de uma gripe quase epidémica.