Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-01-18

NOITES DE HAVANA

Percorro as ruas de Havana, junto ao mar. Estou no Malecón batido pela chuva tropical. As ondas passam o molhe, serpenteando a avenida com espumas coloridas pelos raios do sol que espreitam por entre as nuvens. O vento canta a serra onde os homens cultivaram as rosas brancas para, na vitória, oferecerem aos amigos verdadeiros. Este vento que golpeia o carinho do teu rosto e desalinha os cabelos soltos nos teus ombros. Pressinto que o teu beijo molhado pela chuva, desperto pela chama de um desejo sem fim, cantado pelas lágrimas sentidas na hora de nos despedirmos, ninguém o possui e é só nosso. É só teu, para ser verdadeiro. E a água que cola o teu vestido branco ao teu corpo de mulher escultural, realça as tuas belas formas por quem todos suspiram. Esta água da chuva que cai e corre para o mar depois de abraçar o teu corpo amado. Esta água que ninguém a tem. É a mesma água que forma as tuas lágrimas, molha a tua língua, faz navegar o grande lagarto verde num mar desperto que passa por entre os teus dedos. O mar do Caribe.
Havana é assim mesmo. Uma mulher enigmática e nostálgica. Bela e arruinada. Esplendorosa e complexa. Surpreendente e tranquila. É o aroma de um charuto cubano, o cheiro do corpo de mulher que transpira paixão, o sabor suave de um rum envelhecido e a quentura de um corpo vibrante. Havana é uma cidade que devemos saborear enquanto caminhamos pelas ruas plenas de história e a devemos amar durante as noites quentes ao som da música das Antilhas. O ar que percorre Havana é o ar que percorre o Olimpo e passa entre as flores coloridas dos jardins, debaixo de um céu azul repleto de mensagens. Ninguém consegue ficar indiferente à tela pintada nos terraços da Bodeguita del Médio tendo por artistas os tocadores e cantadores da trova cubana. Como é lindo ter por companheiras, nas noites quentes, as feiticeiras que nos inundam de vida.
Noites demoradas ou manhãs breves com sorrisos deslumbrantes que se cruzam connosco e que são o refúgio de cumplicidades de uma terra que gosto que seja minha e onde me apetece ficar a olhar os velhos do mar a tentar sobreviver nas tempestades da ingratidão. Como Hemingway, acabo sempre, nas noites de Havana, a beber o meu mojito na Bodeguita e o meu daiquiri na Floridita. E embarco para o lugar dos cinco mil silêncios afundando-me no fechar das portas de quem domina a imaginação dos meus sonhos. É em Cuba que um dia, também, hei-de cultivar as rosas para os meus amigos verdadeiros. Na terra onde todos os pés se apoiam nela e onde ningém a possui. Ninguém!