Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-01-21

MELANCOLIA

Sento-me na areia quente da minha praia, à beira mar. Sinto o mar fugir-me por entre as mãos. Hoje, não sei o que me acontece. As ondas só têm um sentido fugindo para bem longe de mim. Não consigo ouvir o bater do teu coração. Como gosto de sentir o teu desejo de me amar. Sentado à mesa do café, pressinto os teus passos e fico sempre com a sensação de que trocamos olhares ternos de amantes. Como se fosse a primeira vez, num jogo de sedução. Tenho sensações de me oferecer. Dar-te um beijo de amor é tudo o que aspiro, negando o desejo absurdo de sofrer. A maresia que vem do teu corpo desperta-me um amor alegre e brando de te querer possuir. Quero beijar os teus lábios, sentir a frescura que irradia dos teus cabelos negros, mergulhar nas ondas da tua paixão, navegar nas águas calmas do teu sorriso, eternamente sentir-me marinheiro da tua amizade.
Sei que sou um velho sonhador. Tremo com medo de me afogar nos enredos que a vida me proporciona. Gosto de saber que por vezes estou à beira do abismo. Parece que o meu barco sofreu um rombo e não tenho solução. O mundo já não tem para comigo amplos horizontes. As marés são terríveis neste sinistro mar. As pessoas correm sem rumo e atropelam-me como se fosse por acaso. Parecem não saber que semeiam as tempestades que me atormentam a viagem. Terei chegado ao fim da estrada? Ou será só a minha dor que busca amplos horizontes? Nunca o saberei. Talvez não queira saber.
Mas a sereia do mar do sul vem aí. Soberba. Vestida de branco, simples, sem grandes enfeites, alegre, na frescura de quem ainda ama, salpicando o meu corpo com a espuma do seu sabor a mar. Sinto que quero afagar o seu peito, tocar com as minhas mãos a suavidade da sua pele. Talvez não o suspeites mas mandei ir a garrafa pelo mar dentro com a minha mensagem. A nossa mensagem. Para que todo o mundo saiba que te amo. E que me tornas bom e saudável. São assim os meus dias de incerteza. Soturnos, vazios, sem anoitecer, com sombras, melancólicos. Despertam-me um desejo absurdo de fugir. Mas...
À beira mar desejava beijar o teu corpo. Amar-te.