Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-10-13

VIDAS NOVAS, VELHOS COSTUMES

De vez em quando sentimos necessidade de visitar outros mundos, outras culturas, estar com outros povos e sentirmos saudade de falar mal do dia a dia que, apesar da resmunguice, gostamos de viver ou somos obrigados a viver. Constitui terapêutica anti depressiva, deformação profissional por certo, para quem tem o hábito de se indignar e reivindicar um Portugal melhor.
Acordamos e deitamo-nos a ouvir falar da presença da GNR no Iraque, dos escândalos do futebol, da pedofilia na Casa Pia, do aumento quase diário dos combustíveis, da presença dos altos signatários da Nação numa qualquer final do europeu de futebol de clubes, no cancelamento da visita do nosso Primeiro-ministro ao México para ir a um jogo de futebol à Alemanha, dos negócios pouco claros na privatização de sectores importantes da economia portuguesa, do desemprego a aumentar, do trabalho precário, da política mais retrógrada e neo-liberal de um ministro que se diz da Solidariedade Social, da diminuição do poder de compra dos portugueses, da paixão pela educação por parte de um ministro incompetente e pouco conhecedor dos problemas das escolas, do anedotário nacional que constituiu a colocação dos professores para 2005, da crise no sector da saúde, do fiasco que constituiu e que levou à criação dos hospitais empresa, da falta e no envelhecimento dos médicos de família, da sinistralidade nas estradas do país, do aumento da “caça à multa” para combater a sinistralidade rodoviária, da falta de infra-estruturas circundantes aos estádios para o Europeu de futebol 2004, de um governo que nos desgoverna, de um País que se lança para a pior crise após a revolução do 25 de Abril (morra a evolução, morra quem teve a ideia, pim!).
E da Lousã, nem em sonhos consigo ter uma imagem positiva. O calvário da estrada da Beira, a variante a Foz de Arouce, a estrada 342, o metro, o novo Centro de Saúde, a despoluição das ribeiras e rios, o tratamento dos resíduos urbanos sólidos e líquidos, o parque desportivo, as zonas de lazer, o repavimento das estradas municipais, o parque industrial, o agrupamentos de escolas, a construção de novas instalações escolares, a reabilitação da Serra da Lousã, são novas que não são comparáveis às notícias da guerra total e mortal entre o Dudu e o Lulu (reis da droga) na favela da Rocinha do Rio de Janeiro.
Isso não significa estarmos em coma profundo e não nos revoltarmos com as imagens dos maus-tratos dos soldados americanos a prisioneiros iraquianos ou à decapitação de um civil americano por um bando terrorista árabe. Ou ao problema palestiniano que a comunidade internacional teima em não resolver.
Como terapêutica proponho beberem um copo de vinho no café Tortoni em Buenos Aires ou uma cerveja no Sindicato do Choupinho no Rio de Janeiro, ver dançar e ouvir um tango no El Comparsita ou um samba no Garota de Ipanema e falar com o povo maravilhoso destes dois países sul-americanos. Assim os portugueses fossem europeus e com o mesmo poder de compra. E sabendo que a sul do equador não existe pecado, acordemos dos sonhos, voltemos à realidade e continuemos a indignarmo-nos e a reivindicarmos nova vida e novos valores.