Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-05-08

RIPA NA RAPAKEKA

Não sei se o meu azul marinho é mais escuro, menos alegre. Tenho as janelas todas fechadas e não oiço o barulho do mar. As ondas que imagino lá fora caiem-me sobre os ombros como ramos pendentes de uma palmeira. A minha chipala tem a imagem de um animal ferido. Não consigo sentir o bater do coração. Oiço o teu grito. Trago as lágrimas entre as pálpebras e não as deixo cair. Chega-me o sabor a sal do mar do Lobito. Ripa na rapaqueca de todo um povo a semear alegria até ao mais profundo e ferido coração.
Foi o que sempre cantaste. Hinos de louvor à terra. À nossa eterna namorada. Angola, essa doce e enternecida mulher , colocou a kizomba que pediste para a tua última viagem. Homem de coragem. Vermelho por fora e por dentro, entusiasmante, como são todos os verdadeiros homens de bem, todos os verdadeiros angolanos. Ó meu, tu tiveste a dimensão dos eleitos e a possibilidade de compreneder o homem e sentir a sua natureza. A vida entusiasma, regista, faz sofrer, alegra, apaixona. Numa soalhenta tarde a notícia perturba o meu sossego. Jorge Prestelo embarcou no meu comboio mala, partiu para o resplandecente horizonte, desapareceu nas enormes montanhas do meu imaginário, e pareceu ir ao encalço do azul plúmbeo do céu. Ó camarada, com essa alegria até eu com a minha barriguinha chego lá e vou abraçar-te. Para sempre fico com saudades e não enclino a pança para o céu como muitas das vezes dizias. Bato palmas às recordações da tua força de viveres. Até sempre, Jorge. E dá um abraço aos amigos. Em especial aos da nossa querida terra.