Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-11-02

PASSES MÁGICOS

Hoje caminho lentamente pelo bairro de La Boca olhando uma cenografia magnífica. As paisagens que se abrem sobre as costas do Riachuelo e se perdem na amplitude do Rio da Prata não me fazem esquecer as cores garridas das pitorescas casas locais. Não consegui ouvir gritar no estádio do Boca Juniors, La Bambonera, o nome do menino que correu pelo Caminito à procura da fama e da glória. Sento-me numa cantina olhando o rio e as embarcações que chegam e partem sem saberem da minha tristeza de não encontrar Diego Armando. Desperto do momento ouvindo uma canção que foi transgressora e proibida e que durante muitos anos só aqui se dançava e escutava. Ela de vermelho vestida, ele todo de negro desenham arabescos no ar, num jogo de sedução em que homem e mulher se enlaçam num apertado abraço dançando um tango nostálgico e ritmado. Lembro-me do que Armando Discépolo, poeta popular, disse a respeito do tango e que o definiu como um pensamento triste que se dança. Tango, essa diabrura como escreveu Jorge Luis Borges, de origem incerta mas cujas raízes são imputadas aos imigrantes, seduz-me num ritmo único. Peço mais um copo de um tinto, com história, e que me leva a sonhar com vidas bailadas por gerações de gente fantástica. Este TrumpeTer de 2003, cabernet sauvignon, é um vinho produto da Argentina. Fico a saber que no século XIX, Dom Felipe Rutini foi um dos primeiros italianos que chegaram à região de Mendonza e aí se dedicou a viticultura. Por várias gerações, a família Rutini mantém a excelência na qualidade dos vinhos produzidos pelas uvas dos vinhedos plantados em altitude nas encostas dos Andes projectando a qualidade dos vinhos da região de Mendonza. Quem me diz é o bailarino de tango vestido de negro e que se diz porteño de alma e coração. À noite, ainda tenho tempo para ver e ouvir contar estórias nostálgicas, tristes, diabólicas, poéticas, musicadas, ao menino que jogava à bola no bairro La Boca. Diego Armando Maradona fala consigo próprio, com uma honestidade impressionante e um realismo que faz pensar, no seu programa de televisão, La Noche del 10. Adormeço e sonho com passes mágicos. Da bola e do tango.