Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2005-01-06

O POETA

Desculpa entrar assim no teu café e ficar a olhar o horizonte. O frio corta-me a vontade de chorar. Não consigo mais ver o que os deuses fizeram nem consigo perceber o porquê de tanta revolta. Mas bebendo umas loiras a minha tristeza voa para lá das Canárias. Na saudade de uns tempos bons. E sento-me, com os amigos, no Poeta, café de muitas cumplicidades. A cidade da Praia continua linda. E aqui estou ouvindo soprar o vento, bailando com o pensamento ao som de um violão, pintando os quadros da morabeza com as cores do fim do dia. E sinto a solidariedade dos homens bons. Ildo Lobo, de mansinho, puxa uma cadeira, pede uma bem fresquinha e conta e canta, para nós, as andanças dos emigrantes. Que bom é ouvir a balada com cheiro à terra. Renato Cardoso escreveu Alto do Cutelo e, mermão, meus companheiros, o tio Ildo falou baixinho para nós ouvirmos. Escutem agora de mansinho.

No alto cutelo
Cimbron dja ca tem (dja seca)
Raiz sticado
Djobi agu c'atcha (dja seca)
Agu sta fundo
E omi ca tral (dja seca)

Mudjer um simana
Sé lume ca cendi (na casa)
Sés fidjos na strada
Só um ta trabadja (pa dozi mirés)
Marido dja dura
Qui bai pa Lisboa (contratado)
Contratado (contratado)
Pa bai pa Lisboa
É bendi sé terra (metadi di preço)
Ali el ta trabadja
Na tchuba na bento (na frio)
Na Cuf na Lisnave
É na si Pimenta (explorado)
Explorado(explorado)

Mon d'obra barato
Pa más pui trabadja (servente)
Mon d'obra barato
Barraca sem luz (comida a pressa)
Inda mas enganado
Cu sé irmon branco (enganado)
Explorado

Ma um dia q'um vra pa terra
Monti Gordo e Malagueta

Nhos tem qui dan agu
Cu força na braço
Conciénça é di mi
É mi qui trabadja
Terra e poder é pa mi
Cu cimbron na cutelo
Minino nta tchon
É barco na porto

Ai nós terra nós terra
Ai nós terra nós terra
(nós terra)

Na sabura de um som de amor, a verdade de uma paixão que só os poetas entendem. Agora saio eu de mansinho e a lágrima corre teimosa a abraçar uma causa de cultura.
Kandandus, amigos