TROVAS DE D. GUESTU ANSUR
Depois não digam que não há gente importante. Pois cá o "je" não é só Figueiredo Fernandes mas também Figueiredo das Donas. Ah!, pois é! Então aí vai uma pequena lenda sobre a dita Figueiredo que ao que parece também foi "musa" para o primeiro poema escrito na língua de Mia Couto.
LENDA
FIGUEIREDO DAS DONAS
Nesta pequena aldeia (perto de S. Pedro do Sul), conta-se a seguinte lenda:
- Mauregato usurpara o reino de Leão, graças ao favor do califa Córdova, que lho concedera a troco do tributo anual de 100 donzelas cristãs. No ano de 784, seis dessas donzelas eram conduzidas, com escolta montada, pelo caminho de Figueiredo, para serem entregues ao usurpador. Orélia, a mais formosa, estava noiva de D. Guestu Ansur, cavaleiro que ali morava num Paço de que hoje só resta a memória e fraca ruína, e conseguiu avisar o amado da sua grande desdita. O cavaleiro reuniu então um punhado de soldados valentes e caiu com tal ímpeto sobre a moirama que num instante a dizimou. Tendo salvo as donzelas, D. Guestu desposou Orélia no seu paço e para ela compôs o seguinte poema de amor, que é, aparentemente, a mais antiga poesia escrita em língua portuguesa:
Trovas de D. Guestu Ansur
"No figueiral figueiredo
a no figueiral entrey,
seis ninas encontrara
seis ninas encontrey,
para ellas andara
para ellas andey,
lhorando as achara
lhorando as achey,
logo lhes pescudara
logo lhes pescudey,
quem las maltratara
y a tão mala ley.
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrei,
Vma repricara
infançon nom sey
mal ouuesse la terra
que tene o mal Rey
seu las armas vsara
y a mim sse nom sey.
Se hombre a mim leuara
de tão mala ley,
A Deos vos vayades
Garçom ca nom sey
se onde me falades
mais vos falarei
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrei.
Eu lhe repricara
amim sse nom irey,
ca olhos dessa cara
caros los comprarei,
a las longas terras
entras vos me irey,
las compridas vias
eu las andarei,
lingoa de arauias
eu las falarei.
Mouros se me vissem
eu los matarei.
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrey.
Mouro que las goarda
cerca lo achei,
mal la ameaçara
eu mal me anogei,
troncom desgalhara
troncom desgalhei,
todolos machucara
todolos machuquei,
las ninas furtara
las ninas furtei,
la que a mim falara
nalma la chantei.
No figueiral figueiredo
a no figueiral entrei"
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