Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2007-03-26

TROVAS DE D. GUESTU ANSUR

Depois não digam que não há gente importante. Pois cá o "je" não é só Figueiredo Fernandes mas também Figueiredo das Donas. Ah!, pois é! Então aí vai uma pequena lenda sobre a dita Figueiredo que ao que parece também foi "musa" para o primeiro poema escrito na língua de Mia Couto.

LENDA

FIGUEIREDO DAS DONAS

Nesta pequena aldeia (perto de S. Pedro do Sul), conta-se a seguinte lenda:

- Mauregato usurpara o reino de Leão, graças ao favor do califa Córdova, que lho concedera a troco do tributo anual de 100 donzelas cristãs. No ano de 784, seis dessas donzelas eram conduzidas, com escolta montada, pelo caminho de Figueiredo, para serem entregues ao usurpador. Orélia, a mais formosa, estava noiva de D. Guestu Ansur, cavaleiro que ali morava num Paço de que hoje só resta a memória e fraca ruína, e conseguiu avisar o amado da sua grande desdita. O cavaleiro reuniu então um punhado de soldados valentes e caiu com tal ímpeto sobre a moirama que num instante a dizimou. Tendo salvo as donzelas, D. Guestu desposou Orélia no seu paço e para ela compôs o seguinte poema de amor, que é, aparentemente, a mais antiga poesia escrita em língua portuguesa:

Trovas de D. Guestu Ansur

"No figueiral figueiredo

a no figueiral entrey,

seis ninas encontrara

seis ninas encontrey,

para ellas andara

para ellas andey,

lhorando as achara

lhorando as achey,

logo lhes pescudara

logo lhes pescudey,

quem las maltratara

y a tão mala ley.

No figueiral figueiredo

a no figueiral entrei,

Vma repricara

infançon nom sey

mal ouuesse la terra

que tene o mal Rey

seu las armas vsara

y a mim sse nom sey.

Se hombre a mim leuara

de tão mala ley,

A Deos vos vayades

Garçom ca nom sey

se onde me falades

mais vos falarei

No figueiral figueiredo

a no figueiral entrei.

Eu lhe repricara

amim sse nom irey,

ca olhos dessa cara

caros los comprarei,

a las longas terras

entras vos me irey,

las compridas vias

eu las andarei,

lingoa de arauias

eu las falarei.

Mouros se me vissem

eu los matarei.

No figueiral figueiredo

a no figueiral entrey.

Mouro que las goarda

cerca lo achei,

mal la ameaçara

eu mal me anogei,

troncom desgalhara

troncom desgalhei,

todolos machucara

todolos machuquei,

las ninas furtara

las ninas furtei,

la que a mim falara

nalma la chantei.

No figueiral figueiredo

a no figueiral entrei"