Tabanka do Huambo

Saber compartilhar cumplicidades, na vida, como forma de cultura e de ciência. Cumplicidades de vivências com os amigos numa abordagem vital para a sobrevivência do Planeta Terra.

Nome:
Localização: Coimbra, Portugal

Nascido no Huambo, em Angola. Médico de Medicina Geral e Familiar pela Faculdade de Medicina em Coimbra. Médico na Lousã.

2006-09-28

HERÓIS DA MANGUEIRA

Lembro-me de uma mangueira frondosa que existia junto ao forno de lenha que servia para aquecer a água dos banhos de fim de semana e já plantada naquele quintal da minha casa amarela do bairro do CFB, lá no Huambo. Aos fins da tarde, depois de feitos os deveres da escola, corríamos a "apanhar" a sombra e ficávamos a ler as aventuras do Texas Jack, do Cisco Kid, do Tarzan. Claro que havia sempre uma discussão de quem era o melhor e que terminava como víamos nas figuras dos quadrados dos livros. Tudo à chapada e grande maka. A mãe resolvia sempre o assunto querendo participação activa no filme e de chinelo em riste corria atrás dos heróis da mangueira. Dada a cóboiada ainda me esquecia que o quintal tinha o forno de lenha para aquecer a água porque no meu Huambo faz frio como na europa. A festa acabava num lanche soberbo de torradas e leite achocolatado de ovomaltine.
Mas um dia estávamos nós a devorar novos heróis, Super Homem, Homem Aranha e Mandrake, quando uma gritaria vinda do canto da mangueira nos perturbou a leitura e os sonhos dos amores de Clark Kent. O Big, amigo de outras aventuras no futuro, tinha nas páginas abertas do livro um bicharoco que mudava de cor conforme queria. O tal bicho tinha voado da pernada mais alta da mangueira e tinha aterrado no batmóvel do Kent atrapalhando o calor intenso que ía no banco traseiro do automóvel voador, super máquina do super homem, e, coisa dos diabos, tentava virar as páginas da história com a sua enorme língua. Soubemos depois, coisas do sábio Xico, negro como o mascarilha, que o bicho dava pelo nome de camaleão. Mais tarde ouvi falar em muitos leões na cama. Uma cama leão, era novidade naquele quintal do CFB. Levou algum tempo a voltarmos para as delícias da sombra da mangueira onde, também, se iniciaram algumas aventuras nos primeiros beijos. Alguns bem salivados e sempre usando uma língua de camaleão. Quem ganhava era sempre o Big e por isso mais tarde o nosso herói do linguado debaixo da mangueira ficou a ser conhecido como o Big Camaleão.

2006-09-23

DARFUR

As pessoas perguntam como é possível esquecer o que se passa em Darfur. Quando estou em qualquer lugar e oiço falar sobre mortes e violência não consigo entender como o mundo se esquece desta região do planeta. Ontem no Ruanda, hoje no Sudão, a comunidade internacional não chora estes mortos porque desiste, não vai à luta. Na verdade é possível ouvir as vozes de milhares de crianças, mulheres e velhos que todos os dias são chacinados em Darfur. Onde quer que nós andemos os gritos são mais fortes que a indiferença dos políticos. Por isso temos que continuar a gritar, porque eu nunca te deixarei, onde quer que seja, também eu estarei contigo, Darfur. Na verdade é possível lutar e continuar a clamar por causas justas. Não vale a pena chorar se não temos força para inverter o estabelecido. Ajudem a resolver a questão de Darfur.